APÓCRIFOS E PSEUDEPÍGRAFOS

 

 

A palavra Apócrifo vem do grego Apokryphos e significa oculto ou não autêntico. Mas este termo é usado, principalmente para designar os documentos do início da era Cristã, que abordam também a vida e os ensinamentos de Jesus, mas não foram inclusos na Bíblia Sagrada por serem considerados ilegítimos.

A origem dos Livros Apócrifos (também chamados de Livros Gnósticos; do grego Gnosis, que significa Conhecimento) nos remete ao ano 367 d.C. Por ordem do Bispo Atanásio de Alexandria, que seguia a resolução do Concílio de Nicéia ocorrido em 325 d.C, foram destruídos inúmeros manuscritos dos primórdios do Cristianismo. Esses documentos eram supostamente fantasiosos e deturpavam as bases da doutrina Católica que se estabelecia naquele momento. Porém, cientes da importância histórica destes papiros originais, os Monges estabelecidos à margem do rio Nilo, optaram por não destruí-los. Ao contrário, guardaram os códices de papiros dentro de urnas de argila e as enterraram na base de um penhasco chamado Djebel El-Tarif. Ali ficaram esquecidos e protegidos por mais de 1500 anos.

Em 1945, Mohammed Ali Es-Samman e seus irmãos, residentes na aldeia de El-Kasr, estavam brincando próximos ao penhasco, quando encontraram as urnas escondidas durante séculos. Pensando que se tratava de ouro, acabaram quebrando uma das urnas, mas só encontraram 13 códices com mais de 1000 páginas de papiro. Decepcionados, levaram para casa, e sua mãe chegou a usar alguns papiros para acender o fogo.

Em 1952, o museu Copta do Cairo recebeu os manuscritos para sua guarda. Faltavam algumas páginas e um códice fora vendido pela família de Mohammed para o Instituto Jung, de Zurique. Esses códices passaram a ser chamados Bíblia de Nag Hammadi, localidade onde fora encontrado os manuscritos. Antes desta descoberta, só se conheciam os textos Gnósticos pelas citações de outros autores. Dos 53 textos encontrados, 40 eram totalmente desconhecidos da comunidade científica. Estes Manuscritos foram redigidos em Copta, antiga língua egípcia, que utilizava caracteres gregos.

Em 1947, dois pastores descobriram em uma gruta próxima ao Mar Morto, fragmentos e rolos escritos em hebraico. Logo se percebeu a grandiosidade desta descoberta. Havia textos condizentes com a Bíblia e outros textos apócrifos. A partir de então, outras grutas foram sendo encontradas, contendo muito material em grande parte identificado como sendo do Antigo Testamento. Até este momento, todas as grutas encontradas continham material escrito em hebraico e aramaico. Porém, em 1955 foi descoberta uma gruta que continha papiros e jarros com escrita em grego. Comprovou-se que se tratavam dos mais antigos manuscritos já descobertos pelo homem, datados de tempos anteriores aos dias de Cristo.

Um dos rolos, o mais conservado, apresenta uma cópia do Livro de Isaías que, ao ser comparado com as cópias modernas, trouxe a certeza de que não houve nesses dois milênios, nenhuma alteração de sua mensagem profética. Encontra-se também O Manuscrito de Lameque, conhecido como O Apócrifo de Gênesis, que apresenta um relato ampliado do Gênesis. Há ainda A Regra da Guerra, que narra a grande batalha final entre os filhos da luz e os filhos das trevas; sendo os descendentes das tribos de Levi, Judá e Benjamim, retratados como os filhos da luz, e os Edomitas, Moabitas, Amonitas, Filisteus e Gregos, representados como os filhos das trevas.

Dois anos após a primeira descoberta, foram encontradas as ruínas do Mosteiro de Khirbet Qumran, uma propriedade dos Essênios. Onde provavelmente teriam sido confeccionadas as cópias das Sagradas Escrituras. Com certeza, pelo mesmo motivo que os monges de Nag Hammadi enterraram os códices dos Evangelhos Apócrifos, os essênios esconderam nas grutas de Qumran, no Mar Morto.

Como vimos, foi através dessas descobertas que atualmente temos acesso a esses livros Apócrifos que deveriam, de acordo com a Igreja Católica, ter sido destruídos há muitos séculos.

Não sabemos exatamente qual o critério usado pela Igreja para designar os livros que eram apócrifos ou canônicos (do grego Kanón - catálogo de Livros Sagrados admitidos pela Igreja Católica). Mas provavelmente, era apenas uma conveniência daquela época. O mais interessante, é que a própria Igreja Católica reconhece que muitos desses textos foram escritos por autores sagrados. E por que então não reconhecê-los como canônicos? E por que tais textos foram perseguidos e condenados durante séculos?

Atualmente, a Igreja Católica reconhece como parte da tradição os Evangelhos Apócrifos de Tiago, Matheus, O Livro sobre a Natividade de Maria, o Evangelho de Pedro e o Armênio e Árabe da Infância de Jesus. Mas a maioria dos livros não é reconhecida. Ao todo são 112 livros, 52 referentes ao Antigo Testamento e 60 em relação ao Novo Testamento. Dentre eles estão Evangelhos (como o de Maria Madalena, Tomé e Filipe), Atos (como o de Pedro e Pilatos), Epístolas (como a de Pedro à Filipe e a Terceira Epístola aos Coríntios) e Apocalipses (como de Tiago, João e Pedro) Testamentos (como de Abraão, Isaac e Jacó). Além de A Filha de Pedro, Descida de Cristo aos Infernos, etc.

Diante de tudo isso, é difícil compreender como é possível um livro considerado sagrado, ser além de escrito, formulado pelos homens conforme suas idéias retrógradas e conveniências políticas e sociais. É apenas mais um motivo para se contestar a Antiga Igreja Católica, já tão bem conhecida pela sua "Autoridade Divina".

OS APÓCRIFOS DA SEPTUAGINTA SÃO:

  • 1.       Terceiro Livro de Esdras;
  • 2.       Quarto Livro de Esdras;
  • 3.       Tobias;
  • 4.       Judite;
  • 5.       Adições ao Livro de Ester;
  • 6.       Sabedoria de Salomão;
  • 7.       Sabedoria de Jesus o Filho de Siraque ou Eclesiástico;
  • 8.       A Segunda Parte de Baruque é conhecida com a Epístola de Jeremias;
  • 9.       Acréscimos ao Livro de Daniel;
  • 10.    A Oração dos Três Moços;
  • 11.    Susana;
  • 12.    Bel e o Dragão;
  • 13.    A Oração de Manassés;
  • 14.    O Primeiro Livro dos Macabeus;
  • 15.    O Segundo Livro dos Macabeus.

AS OPINIÕES ECLESIÁSTICAS

As opiniões eclesiásticas através de várias épocas tem diferido quanto ao valor dessa literatura. Os judeus da dispersão no Egito revelaram alta estima por estes escritos e os incluíram na tradução do Antigo Testamento para o grego, chamada de Septuaginta, mas esses mesmos escritos foram eliminados do canôn hebraico pelos judeus da Palestina. Jerônimo no ano de 405 d.C. incluiu-os também em sua tradução latina do Antigo Testamento, chamada Vulgata, porque lhe fora ordenado pelos líderes da Igreja Católica Romana, mas recomendou que esses livros não fossem usados como base doutrinária.

Os reformadores foram em parte os grandes responsáveis pela eliminação dos apócrifos da Bíblia, por haver neles elementos inconsistentes com a doutrina protestante. Entretanto, em 1546, no Concílio de Trento, a Igreja Católica Romana proclamou alguns livros apócrifos como canônicos detentores de autoridade espiritual para seus fiéis, excluindo apenas os dois livros de Esdras e a Oração de Manassés.

OS APÓCRIFOS DA BÍBLIA CATÓLICA

Os apócrifos mais conhecidos na Bíblia católica são: 1 e 2 Macabeus, Tobias, Judite, Sabedoria de Salomão, Eclesiástico e Baruque. Os quatro primeiros são históricos; Sabedoria de Salomão e Eclesiástico são poéticos, mas também chamados de sapienciais; Baruque é profético. Sintéticamente tratam dos seguintes assuntos:

Macabeus 1 e 2 – ambos os livros contam a historia da revolta contra a opressão síria, liderada pela família dos Hasmoneus no período da historia conhecido como interbíblico.

Tobias – é um conto histórico que revela o misticismo juntamente com uso da magia. O autor se refere ao emprego do fel, do fígado e do coração do peixe para influenciar a Deus ou entidades espirituais.  

Judite – narra a historia de uma destemida viúva judia que se serviu dos artifícios de sua beleza para assassinar holofernes, general do exercito inimigo.

Sabedoria de Salomão – este livro jamais foi formalmente citado, nem mesmo os escritores do Novo Testamento se referem a ele, porém tanto a linguagem como as correntes de pensamento deste livro encontram paralelos no Novo Testamento.

Eclesiástico – em grego era chamado de “Sabedoria de Jesus, Filho de Siraque”. O texto original se perdeu, todavia, desde 1896, conhecemos alguns fragmentos de cinco manuscritos descobertos na genizah do Cairo, contendo cerca de dois terços do texto hebraico. Suas máximas sapienciais provavelmente se inspiram no livro de Provérbios e estão agrupados por ordem de assuntos, sem divisão perceptível.

Baruque – ao que parece, teria sido o amanuense do profeta Jeremias, que o escreveu.

Diante de tais testemunhos, surge a seguinte pergunta: por que a Igreja Católica continua a se apegar a estes escritos não inspirados? A razão não poderia ser outra: estes livros contém as doutrinas espúrias que confirmam os falsos ensinos dessa igreja, como por exemplo: as orações pelos mortos, as curas falsas, dar esmolas para libertar da morte e do pecado (justificação pelas obras) e a intercessão pelos mortos.

O ponto de vista evangélico

Os evangélicos, ou protestantes, geralmente aceitam os apócrifos como possuindo algum valor histórico, mas rejeitam a sua canonicidade. Por esta razão esses escritos foram eliminados das edições evangélicas da Bíblia. Os argumentos são os seguintes:

1-    Nunca foram citados por Jesus (Jesus citou todos os outros livros do VT), e duvida-se que os apóstolos tenham feito alusão a eles.

2-    A maioria dos primeiros pais da igreja os consideram como não inspirados.

3-    Não aparecem no canôn hebraico antigo.

4-    Quando comparados aos canônicos, os livros apócrifos por sua qualidade inferior se revelam como indignos de ocupar um lugar nas Escrituras Sagradas.

O QUE SIGNIFICA PSEUDEPÍGRAFO?

O termo deriva-se de duas palavras gregas: pseudo (falso) e epigrafe (escrito), significando “falsos escritos”. Embora tenham surgido na mesma época dos apócrifos, os pseudepígrafos não foram plenamente recepcionados pela comunidade judia e cristã, devido a não gozarem do mesmo favor que os livros canônicos, ou seja, o apoio dos pais da igreja. Esta literatura foi conservada pela Igreja ocidental da Idade Média, bem como pelos abissínios, os coptas e as igrejas da Síria, com a denominação de extra canônicos. O número de pseudepígrafos é bem maior do que a Bíblia canônica, podendo ser classificados como:

Evangelhos, Atos, Epístolas, Apocalipses, Testamentos, e Outros.

São eles:

Livro de Enoque (etiópico), que é citado em Judas 14. Atribuem-se várias datas, pelos últi­mos dois séculos antes da era cristã.

Os Segredos de Enoque (eslavo), livro escrito por um judeu helenista, ortodoxo, na primeira metade do primeiro século d.C.

O Livro dos Jubileus (dos israelitas), ou o Pequeno Gênesis, tratando de particularidades do Gênesis duma forma imaginária e legendária, escrito por um fariseu entre os anos de 135 e 105 a.C.

Os Testamentos dos Doze Patriarcas: é este livro um alto modelo de ensino moral. Pensa-se que o original hebraico foi composto nos anos 109 a 107 a.C., e a tradução grega, em que a obra chegou até nós, foi feita antes de 50 d.C.

Os Oráculos Sibilinos, Livros III-V, descrições poéticas das condições passadas e futuras dos judeus; a parte mais antiga é colocada cerca do ano 140 a.C., sendo a porção mais moderna do ano 80 da nossa era, pouco mais ou menos.

Os Salmos de Salomão, entre 70 e 40 a.C.

As Odes de Salomão, cerca do ano 100 da nossa era, são, provavelmente, escritos cristãos.

O Apocalipse Siríaco de Baruque (2º Baruque), 60 a 100 a.C.

O Apocalipse grego de Baruque (3º Baruque), do 2º século, a.C.

A Assunção de Moisés, 7 a 30 d.C.

A Ascensão de Isaias, do primeiro ou do segundo século d.C.

Os Livros Pseudepigrafos do Novo Testamento são:

O Evangelho segundo os Hebreus  (há fragmentos do segundo século);

O Evangelho segundo Tiago, tratando do nascimento de Maria e de Jesus (segundo século);

Os Atos de Pilatos.(Segundo século).

Os Atos de Paulo e Tecla (segundo século).

Os Atos de Pedro (terceiro século).

Epístola de Barnabé (fim do primeiro século).

Apocalipses, o de Pedro (segundo século).

CONCLUSÃO

Ainda que casualmente algum livro não canônico se ache apenso a manuscritos do Novo Testamento, esse fato é contudo tão raro que podemos dizer que, na realidade nunca se tratou seriamente de incluir qualquer deles no Cânon.